Vivemos um momento especial em que contribuições
importantes, de várias disciplinas, deverão ser amalgamadas numa teoria
consistente sobre o processo operado com instrumentos proporcionados pelas novas
tecnologias da informação e da comunicação (NTICs).
A TGP está
pressionada e parece ser o porto de chegada dessas contribuições, oriundas
de variados espaços de saber. No
passado, intelectuais de estatura inquestionável, aplicando métodos e técnicas
que se julgaram adequadas, desenvolveram um consistente corpo teórico relativamente
estável e grandemente representativo de
um mundo empírico que, na atualidade, vive uma metamorfose sem precedentes.
O que parecia feito e acabado, de repente, apresenta
rachaduras, inconsistências e vazios que não podem ser arranjados com os
habituais remédios. De se lamentar? Não. Aliás, há uma certeza a reconhecer:
incorporando fortemente a tecnologia, como está acontecendo, o Direito
apropria-se de vantagens imensas e de um ônus óbvio: o aprofundamento do gap característico que sempre o separou,
na linha do tempo, da realidade. Diante dessa fenomenologia fundada na
mutabilidade acelerada, de agora em diante não se poderá falar mais de uma TGP
pronta. Déficits diariamente renovados farão parte da vida dessa ciência
(equilíbrio no caos!).
É estimulante pensar que os conceitos e os espaços de
investigação apresentar-se-ão fluidos, temporalmente meteóricos, necessitados de renovação diária. Uma TGP do mês passado não mais terá
respostas para perguntas que, quando respondidas, já estarão superadas. Esse, aliás, parece ser o destino de todas as
ciências que se dedicam à teorização do humano.
As visões monistas, nascidas do Direito que se estruturou a
partir dos modernos, deverão alargar-se para, mantendo, embora, um papel
fundamental de coordenação e sistematização, recepcionar e contemplar as
variâncias da realidade lá fora, rica,
complexa, hipercomplexa, captadas por outros âmbitos cientificos.
A face de purismo jurídico transformar-se-á num painel
serzido com fios de muitos matizes: jurídicos, em boa e indispensável medida,
mas entremeados de tecnológicos, sistêmicos, sociológicos, de comunicação e metodológicos de outras áreas...
Novas categorias, de natureza mista, como a norma tecnológica, demandarão muito mais
do cientista, que já não poderá, também nesta área, cultivar um cartesianismo
miudo e castrador. Para entender e explicar a realidade multifacetada do novo
processo, a TGP vai libertar-se de visões antigas e assumirá a responsabilidade
de recepção e sistematização dessa miríade de diferentes saberes. Disso ela não poderá abrir mão, perseguindo e
construindo, por si mesma, o método de cumprimento dessa tarefa. Ela será menos um corpo de saber, estático e
estável, e mais uma dinâmica e continuada reflexão. O oceano para onde correrão
os rios de muitos saberes.